http://eproinfo.mec.gov.br/webfolio/Mod83219/pg7.html |
RESPOSTA:
REFLEXÃO – USO DA TECNOLOGIA NOS PROCESSOS DE ENSINO APRENDIZAGEM
A internet é mais valiosa para a educação como matéria-prima de construção do que como mídia de transmissão de informações.
Nunca se ouviu falar tanto de novas tecnologias para educação e essa prenunciada revolução tecnológica tem unido setores da sociedade que nem sempre caminham juntos: educadores, universidades públicas e privadas, empresas e governo. Será que todos estão em busca da transformação da educação e a emancipação do homem? Acreditamos que não. Governos buscam o atendimento às pressões sociais por mais educação, empresas buscam novas oportunidades de negócios, escolas buscam se adaptar aos novos tempos. Os discursos, entretanto, se confundem. E como afirma o educador Fernando Almeida, além de toda a consistência e rigor teóricos, eles têm um discurso poderoso que seduz, encanta e apaixona.
A nova educação está na transmissão unidirecional de informação, valoriza-se cada vez mais a interação e a troca de informações entre professor e aluno. No lugar da reprodução passiva de informações já existentes, deseja-se cada vez mais o estímulo à criatividade dos estudantes. Não ao currículo padronizado. Sim à pedagogia de projetos. Uma das razões é que se deseja que as novas tecnologias resolvam todos esses problemas de uma vez, sendo que a base de todos eles não é, necessariamente, a ausência de uma determinada tecnologia. Não basta introduzir tecnologias – é fundamental pensar em como elas são disponibilizadas, como seu uso pode efetivamente desafiar as estruturas existentes em vez de reforçá-las.
O texto é a favor da educação como instrumento de libertação, de engrandecimento da condição humana, de descoberta de nossas potencialidades – e da tecnologia como grande fio condutor deste processo de mudança. Como afirma Pierre Lévy, é exatamente o uso intensivo das tecnologias que caracteriza nossa condição humana. Tecnologia não é desumanizadora, pelo contrário – desumanizador é o uso que nós, homens, fazemos dela. A educação tradicional vê o aluno sempre como um ser em falta com os conteúdos, o comportamento e a motivação. Segundo essa visão, o aluno ainda não sabe, não pode, não se motiva e não está preparado. A educação deveria servir exatamente para que descubramos que sabemos, que podemos, que estamos preparados e que queremos mais. Observações em escolas públicas brasileiras mostra que, quanto mais confiamos nelas, quanto menos proibições existem no ambiente, quanto mais convivial é a atmosfera, mais elas demonstram responsabilidade, maturidade, motivação e interesse (BLIKSTEIN:2002).
Henrique Del Nero, psiquiatra, mostra que a disponibilidade oceânica de informação não é garantia de aprendizado ou de construção de conhecimento. Sérgio Paulo Rouanet também comenta e critica a confusão não-acidental entre sociedade da informação e do conhecimento, reafirmando o que diz Del Nero sobre a necessidade do trabalho interno de reflexão para transformar informação em conhecimento. O problema é que a educação tradicional está se mostrando insuficiente para o tipo de mão de obra que se requer no suposto novo mundo do trabalho; não mais trabalhadores autômatos e repetitivos, mas ambiciosos e multifuncionais. Evidentemente, essa demanda por profissionais diferentes tem reflexos sobre quem os forma: a Universidade.
A suposta causa do desemprego ou da falta de oportunidades não são os fundamentos da economia, mas o “despreparo” dos trabalhadores. E muitas vezes é mais fácil receitar “remédios educacionais” imediatas para males sociais do que resolvê-los.
Para Bourdieu, as iniciativas públicas de ampliação do sistema educacional como instrumento de redução de desigualdades sociais tiveram o efeito contrário. Estabeleceu-se uma distinção que permanece até os dias de hoje: universidade de elite e universidade de massas.
Vimos que a transformação da docência acadêmica em produto industrial traz graves riscos à qualidade e ao tipo de formação dos alunos, além de enfraquecer a universidade como local alternativo de pensamento, reflexão e produção de novas tecnologias no interesse público. Vimos também que muitas promessas exageradas do ensino on-line já começam a serem desmistificadas. Entretanto, nada disso indica para a desvalorização das novas tecnologias.
Devemos usar o que a internet oferece de novo e positivo.
O que exatamente devemos cultivar na educação, seja on-line ou presencial: é o brilho nos olhos, que se vê em crianças e adultos quando vislumbram a possibilidade de atuar no mundo, empreender projetos, melhorar a vida das pessoas, imaginar o que não existe, subverter a ordem, construir, destruir e reconstruir. A única educação que faz sentido é a que nos faz mudar o mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário